quinta-feira, 27 de setembro de 2007

G R I T O


Q U E RO F U G I R . É fato. Quero ir a Ítaca e roubar Odisseu. Quero ir aos Campos Elísios e beijar os pés de Zeus em agradecimento pelo sêmem abençoado. O sêmem jorrado em Sêmele que nos deu Dionísio.
G R I T O porque em mim não cabe mais nada. Quero apenas expelir amor, dor , náuseas e tonturas Homéricas. Quero sentir Nix, quero beijar seu lábios.
É sufocante! Ares me domina!
A batalha está travada dentro de mim e meu mais berrante desejo é ser abençoada por Afrodite.

E. Alvarez

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Diálogo

Sim, era um fim de tarde e não era fria. Lá estava ela sentada naquela praça. Já havia sentado em outras. Já havia tido conversas. Já tinha sentido o que não queria sentir. Já havia encontrado o inesperado. Uma dança havia acabado. Ele, que tinha sentimentos por ela se aproximou...

- oi, moça... está bem?

- não

- quer conversar?

- não. Eu preciso ficar sozinha.

(silêncio)

- Eu fico puto mas eu entendo. Fica bem.

- sim, decerto amanhã estarei. Basta eu dormir...escrever, basta chorar, basta amanhecer.

- Eu não sei como agir.

- Não se preocupe. Amanhã eu estarei por perto. Hoje eu não faria bem pra você.

- Posso te acompanhar até o ponto de ônibus?

- Não. Já disse. Eu quero ficar sozinha.

- Certo. Tchau.

Ela sem olhar para trás foi caminhando e se perguntando o porque de algumas pessoas se recuzarem a sentir o vir dos sentires. Pouco depois, quando já se encontrava perto do ponto de ônibus virou o rosto e viu o rapaz cheio de ansiedades correndo para de novo encontrá-la. Ela virou e quase murmurando perguntou:

- O que houve?

- Não se preocupe, não vou te acompanhar. Eu só precisava fazer isso. Quer um trago?

- Isso o que?

- Isso.

(Ele parou. A olhou. Um olhar que durou uma eternidade de segundos.)

- Entendo. Isso foi a melhor coisa do meu dia. Obrigada.

- Eu não fiz isso só por você. Eu precisava. Alívio agora.

- Certo. Vou indo.

Ela sai caminhando numa lentidão que quase doía. Ele, depois de alguns segundos quase gritou:

- Adoro você

Ela olhou, ensaiou um sorriso e quase na mesma altura respondeu:

- Eu gosto de você.

O ônibus estava vindo. Ela teve que correr.

E. Alvarez

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Ebriedade

Vamos gritar poemas de amor em noites dilaceradas.
Vamos escrever com sangue o desejo de amar.
Vamos dormir de braços abertos nas ruas em noite chuvosa na esperança que alguém apareça com um resto de beijo e com o sexo pulsando.
Vamos escrever tomados por instinto animal e ir de encontro as cartarses das nossas almas.
vamos em busca das epifanias, das cores, dores, sabores e amores.
Vamos sentir o simples.
Vamos sair correndo nús em noite fria, loucamente embriagados pelas nossas dores e temores.
Vamos expelir desejo pelos nossos poros entupidos de poeira de uma sociedade doentia.
Vamos gritar as nossas verdade mofadas.
Vamos ficar em silêncio diante da voz erótica da cantora bêbada.
Vamos chorar a volta de Ulisses à Ítaca e nos tocar sensualmente lembrando da noite de amor com a sua sedenta Penélope.
Vamos andando sem saber até aonde ir.
Vamos tomar café, acender um cigarro e ficar em silêncio.
Vamos comigo porque eu já não sei ir só.

E.Alvarez

quarta-feira, 19 de setembro de 2007