sábado, 10 de janeiro de 2009

[In] delicadamente [in]definido

"Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assentada aos poucos e com mais força enquanto a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos. Tão transparentes que até parecem de vidro, vidro tão fino que, quando penso mais forte, parece que vai ficar assim clack! e quebrar em cacos, o pensamento que penso de você”. (Caio Fernando Abreu in Carta Anônima)


É tão [in]delicado assim pensar quando penso em você. É tão injusto pensar em amor quando o que temos é apenas um surto de necessidade um do outro. Aquelas necessidades que aprecem em meio de tardes cinzas de outono. A vontade da gente é simples e intensa como a de comer algodão doce durante à tarde num parque de diversão. Aquela vontade que dá e passa. Vontades súbitas.Vontades de ser o que nem dá pra saber se é. A vontade irreal transpassa a realidade e eu às vezes insisto na tal [in]delicadeza quase [in]consciente que grita pela sua presença.
[In]Delicado é seu sorriso inexistente, teu não afago diante as minhas lamurias de fim de semana. Seu doce egoísmo me deixa uma ausência de memórias não vividas e seu sorriso rabiscado por mim é apenas uma tentativa de sentir aquele sentimento inomeável que existe entre nós; o seu fantasma e eu. A sua frieza inconseqüente me faz dançar em noites solitárias regadas por vodka barata e cigarros com gosto de querer insaciável.
É no fim semana quando o tempo chega mais quieto que eu começo a pensar em você. Dói mas eu não choro porque tão forte quanto a sua frieza é o meu choro interno. Acordo no meio da noite e coloco a mão ao lado e só sinto o travesseiro que nunca encostasses a cabeça. Ligo o som, escuto repetidamente a música daquela enjoada banda inglesa que eu nem sei se você gosta. Acendo o cigarro, lembro que não posso lembrar do que não existiu e só durmo quando não vejo mais luz da piola do cigarro.
[In]Delicada é a minha capacidade de lembrar de diálogos que nunca existiram e fazer deles o meu escudo de proteção contra sentimentos reais que certamente virão. Prefiro sentir você, que de fato nunca existiu. Prefiro ficar com a lembrança de um cheiro que nunca senti ou de lembrar dos nossos inventados gemidos. Os nossos orgasmos doces e indecentes, aqueles que anyway nunca estarão nas nossas lembranças.
Ah, meu [in] pensado e [in]delicado amor, fiquemos com nossos corpos desentrelaçados! Tudo deve ser impalpável entre nós. Tudo é belamente inventado. Tudo é seco e [in]existente.
Enjôo sempre quando tento lembrar do não você. Hoje, embriagada de café e cigarro, já vomitei a ausência de sua lembrança. O meu [in] delicado, [in] existente e sempre enjoado amor por você andam sempre juntos me perturbando num espaço de tempo [in] constante e [in] definido. Não sei se um dia o seu não sentir vai fazer com que você sinta o que não foi e nem poderia ser. Não sei se em meio a sua [in] delicadeza, você saiba que você até quis que nós fôssemos. Não, meu amargo fado, você sabe e eu sei que nunca seremos. Eu e minha loucura sempre tentamos te esquartejar em pequenos, pequenos pedaços de doce de gengibre com gergelim na minha não memória. Não adianta, você sempre volta, mais forte ou mais franco,dentro e fora da minha [in] delicada e [in]existente lembrança.

E. Alvarez