terça-feira, 4 de novembro de 2008

Ser


(Photo by Pricess Frog)


Eu sou comum na minha estranheza.



E. Alvarez

Mais uma crônica bobinha

Quero momentos humanos verdadeiros. Quero ver você. Quero que você me veja. Não quero abrir mão disso. Não quero ser uma formiga, entende?" – Trecho do filme Waking Life.




Acordo e me vem logo uma sensação de impotência lúdica. Penso em quanta roupa há pra lavar e quanto de teoria eu tenho pra ler. Há sempre a ausência de alguma coisa. Não sei porque tenho esse nó que não desata da garganta. Devido a esse nó eu venho escrever qualquer coisa para ver se eu consigo parar de perder a respiração . Eu já não sei o que escrever. Eu poderia falar de qualquer coisa que me aliviasse mas é difícil. É uma ilusão. Eu eu vivo assim, cheio de boas ilusões. Elas são meu combustível. É tão bom fazer de conta que acreditamos em algumas coisas. Coisas como sentimentos,por exemplo. Essa coisa de sentimento são as que mais iludem, as amizades e os amores.
Uma vez eu estava pensando sobre a felicidade e como chegar lá. Eu que já tenho quase quarenta anos e dois filhos não sei direito o caminho. Não tenho esposa. Nunca quis.Tenho uma namorada que eu nem sei porque está comigo ainda se eu nunca vou conseguir ser quem ela quer que eu seja. Casar? Nem pensar. Eu preciso e quero ser sozinho. Além desse sentimento de uma solidão por escolha eu ainda busco a tal felicidade. O que é? Ando até lendo livro de auto- ajuda. Lendo aquelas frases bobinhas e viciantes. Tipo as de Augusto Cury: “Quantas vezes seus temores bloquearam seus sonhos? Ser um empreendedor não é esperar a felicidade acontecer, mas conquistá-la.”
Eu não sei. Já não sei mesmo. Um quarentão perdido ainda nas doces dúvidas adolescentes. Às vezes até me apaixono por determinados sorrisos que encontro nas esquinas da vida mas não tenho coragem de mudar. É isso, me falta coragem. Coragem de transformar o meu dia-a-dia. Mudar dar trabalho, mexe com tanta coisa dentro e fora da gente. Eu não agüento mais essa tendência em sermos formigas. Sim, os tipos de formigas que foram faladas no filme waking life. “Passamos pela vida esbarrando uns nos outros, sempre no piloto automático, como formigas, não sendo solicitados a fazer nada de verdadeiramente humano. 'Pare'. 'Siga'. 'Ande aqui'. 'Dirija ali'. Ações voltadas apenas a sobrevivência. Toda comunicação servindo para manter ativa a colônia de formigas de um modo eficiente e civilizado.” Meu desespero é saber que quase sempre vai ser assim, sabe? Vamos viver como formigas porque a vida é uma simples preocupação em pagar contas. Perdoem-me se cito demais é que hoje eu não sei bem o que escrever e tenho que usar das palavras dos outro pra que me possa fazer entendida. E depois de falarmos em formigas eu tenho mais uma que o Caio Fernando nos deixou e que fala da onde vem essa tendência toda de virarmos formigas: “Um dia de monja, um dia de puta, um dia de Joplin, um dia de Tereza de Calcutá, um dia de merda enquanto seguro aquele maldito emprego de oito horas diárias para poder pagar essa poltrona de couro autêntico onde neste exato momento vossa reverendíssima assenta sua preciosa bunda e essa exótica mesinha de centro em junco indiano que apóia vossos fatigados pés descalços ao fim de mais uma semana de batalhas inúteis, fantasias escapistas, maus orgasmos e crediários atrasados.” Tanta coisa, tanta coisa que dá vontade de sair correndo de porta em porta perguntando se alguém tem uma solução. Já não sei.
É isso, Caio, Augusto Cury, Lispector, personagens de filme, eu, você, tanta gente em busca de um caminho. Afirmo, não é fácil. Não sei nem mais o que escrever. Escrever pouco altera alguma coisa e na verdade já estou atrasado para o trabalho. Tenho meia hora para chegar lá e antes vou passar na loja para pagar meu crediário.

E. Alvarez

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Tempo



O Tempo corre e a Vida escorre.


E.Alvarez

As Gotas de Chuvas Torrenciais

Para me proteger de mim mesma, eu vivo fugindo das gotas de chuva que tentam me inundar.



(Photo by Pickerel)

Às vezes a gente acorda com a alma tão recheada de coisas do dia-a-dia, que esquecemos das chuvas que de vez em quando acontecem dentro da gente. As chuvas internas são as mais devastadoras.São do tipo torrenciais. Pois é, são aquelas que ocorrem quando chove bastante num curto período de tempo sobre uma pequena área. Não há guarda-chuva que as impeça. É inevitável. Pergunto-me apenas como cuidar dessas pequenas áreas expostas à tais chuvas. Tão difícil é cuidar disso com a vida que a gente leva. A vida que não é como a gente pinta. A vida maquiada.O problema é que quando chove a maquiagem derrete.
A chuva vem sempre que a gente pensa na nossa vida EU. Assim chamo e explico que a vida que chamo de nossa vida EU é aquela que existe na parte mais bonita da gente.Ai, ai, como chove quando a gente pensa nessa vida fantasiosa, irreal e quase intocada.
É assim. A gente sempre está exposto ao sol na maioria das vezes. Assim penso desse lado aqui da cidade. Vivo escrava do sol. Ele está grudado em mim e raramente penso nas chuvas. Evito. Deixo o sol me queimar às vezes. Não sei nem onde anda meu protetor solar. Até penso no frio que me falta mas vivo fugindo das possibilidades de chuva. Não quero me molhar pois cada gota de chuva que me atinge, me faz lembrar da vida que sou eu mas não é minha. Falo da que é intocada. As gotas doem tanto quando batem que fazem o coração ficar encharcado. É isso, um coração encharcado de chuva.
Diante dessas chuvas torrenciais, que me invadem esporadicamente, eu acabo me perguntando o que fazer.Fecho a janela? Saio correndo? Grito? Deixo as gotas caírem? Deixo meu coração ficar encharcado? Mas e depois? Quem vai me maquiar novamente?

E.Alvarez