(Para ler ao som de "Light my Fire" - The doors)
(Nix, deusa da noite (William-Adolphe Bouguereau - La Nuit (1883))
Noite é quando me despedaço e nem sei onde meus pedaços foram jorrados. Cada um numa calçada, cada pedaço inteiro de mim. Cada sentir indefinido. Cada suspiro. Cada grito não dado. Cada pedaço de mim, me assustando e me fazendo feliz.
Quando a noite chega, chega o que em mim não conheço. Quando atravesso a madrugada naquela rua larga e te encontro eu não sei aonde vamos mas eu sinto que você pode, que você pôde ou que poderia me levar de alguma forma. Você decide me levar e eu não me importo como. Eu apenas fui. Fomos...e era assim que tinha q ser. Podem até falar que não, podem nos odiar se soubéssemos que fomos. Eu nem sabia direito porque estava indo. Nunca é assim, eu quase sempre sei porque eu vou. Você quis pegar na minha mão naquela noite e você sabe que não poderíamos ter ido. Parecia que tudo fora armado. Os deuses lá estavam apostos. Hermes possivelmente conversou com Dionísio e juntos nos pregaram uma peça. Não me importo mais em ter ido. Quando acordei na manhã seguinte decerto senti que os deuses estavam nos apontando. Palas Atena estava possessa mas já era tarde...eu tinha ido. Você me levou, você me levou. Não quero te fazer responsável por isso. Saiba que se você não tivesse pego na minha mão eu te arrastaria. Roubaria você naquela noite.
Fomos. E agora? Agora eu estou aqui. É dia e meus pensamentos derretem. Lembro daquela noite. Meu corpo ainda te sente. Não poderia pensar. Não sou justa. As divindades, os bons costumes, os valores...que me perdoem mas eu fui. Penso nisso tudo e quebro meu pensamento em pedaços. Sentimentos espalhados. Desejos concretos naquela sala de estar onde fomos parar levados pela madrugada que apenas havia começado naquela rua que eu não tinha planejado passar. Tudo culpa de Nix. Nix me devora sempre e quando ela me engole com vontade eu sou outra e sendo assim sou a mesma.
Eu fui naquela noite. Fui porque tinha que ir. Era tarde e eu não saberia mais voltar de mim. A sala de estar foi nosso caminho.Fomos... e agradeço por você ter ido comigo.Você não soltou a minha mão, não soltou meu corpo e nem minha alma naquela noite.Agora é dia, é outro dia e possivelmente não nos cruzaremos naquela rua novamente.
Há sempre engarrafamentos.
E. Alvarez