Lenta como uma nuvem azul, assim sou. Movo-me como aquelas lesmas despreocupadas. Assim é como acordo, assim como me deito. Desperto-me apenas com surtos de paixões e tristezas súbitas. A felicidade vem e me agarro a ela como o bicho preguiça faz com as árvores. Vivo com sedes intermináveis e fome devoradora de vida. A vida vem. Às vezes fica e às vezes escorre pelas mãos e eu na minha lentidão nem percebo . Vida indefinível e sem necessidade de definição.
Sentir, verbo inconjugável indefinível. Não me pergunte as conjugações certas do verbo amar, pois eu já não sei como ficam as terceiras pessoas do singular. A primeira pessoa do singular já não é conjugada há tempos. Como disse, sou nuvem azul. Toda cheia de formas disformes e desconexas. Sou amiga da nuvem que ontem vi no céu. Achei que aquela cor não existia mas ontem ela estava no céu. Ela era rosa e era fim de tarde. Achei que era engano e até senti um desengano mas ainda assim olhei de novo para acreditar. Eu tomada de álcool e falta de fé não sabia o que fazer daquela visão. Eu, cheia de azul gritante quis correr para encontrar a nuvem rosa. Dei a ela a forma que quis. Até sorrisos esculpi. Não sei mais. Só sei que, que sou, que sou lenta como uma nuvem azul, mas sua mãe não disse que nuvens azuis não existem?
E. Alvarez