quarta-feira, 21 de julho de 2010

Dialogue

- Mom, what's life? How can I define?
- Hummm... when you grow up, honey, your're going to see that life ,indeed, is such a lovely mess.
- But...is it going to hurt?
- A lot.
- So, why should I be alive? Why do we grow up?
- Because life is also a lost piece of poetry, dear.
- Mom!! Great! Can I look for it? For the poetry?
- Yes, sweetheart , but now you're only six years old. Don't worry about that. Go to your toys.
- Ok, Mom. But what's poetry?
- Poetry , honey... is the only thing that save us from bad things when we grow up.
- I think I got it, mom. Poetry is like a pill, right?
- Yes, my little bee.
- Can I go now? Can play in the garden and talk to my flowers there?
- Sure! Have fun.



E. Alvarez

domingo, 4 de julho de 2010

Desenho Cor de Vinho


(Foto: Body language by Jellymel)


Helena é uma colega minha de faculdade. Quase sempre a vejo nos corredores. Sempre sozinha. Sempre ouvindo música. Ela estuda comigo há alguns anos, mas nunca me aproximei dela de verdade. Fizemos uns trabalhos juntos, mas a verdade é que ela nunca deixa ninguém se aproximar. Eu sempre me pergunto que cor tem o mundo dela. Mal sorri, mal fala em sala de aula. Tudo que ela mostra é aquele arrebatador par de olhos castanhos. Olhos quase claros, olhos quase escuros.
Eu sou curioso e na verdade queria saber mais sobre ela. Um dia andando por esse mundo virtual achei seu blog. Tudo tão cinza por lá, tudo tão cor de dúvida. Li vários de seus textos e percebi que ela tem predileção por cartas. Eram tantas cartas. Seriam cartas reais? Seriam cartas que ela já teria mandado? Ou apenas cartas pra ninguém? Encantei-me por Helena e por suas cartas. Tão quanto ela, vivo perdido no meio das palavras. Eu também escrevo, mas acho que jamais terei o talento que Helena tem com as palavras. Toda noite leio uma carta dela lá no blog. Tenho percebido que as últimas são sempre para mesma pessoa. Não tem nome. São apenas endereçadas a “V”.
A última carta é recente, com data deste mês ainda, deste último fim de semana na verdade. Comecei a ler e confesso que senti tanta coisa passar pela minha mente e corpo que tudo que eu queria era ligar para ela e comentar tal carta. Não tive coragem. Quem sou eu perto de alguém que escreve tão bem? Fiquei horas e horas com a carta na cabeça. Carta curta que dizia assim:

Florianópolis, 04 de Julho de 2010.
V,
O ventilador parece espalhar pelo quarto escuro o cheiro do nosso suor. Deito. O céu do meu quarto lembra o contorcer dos nossos corpos na macia cama branca. Meus olhos perturbados desenham imagens distorcidas do teu olhar lento e silencioso. Tento juntar esses ícones na minha mente. Imagens e mais imagens me invadem. Somos ícones puros que fomos invadidos violentamente por índices sensuais. Minha mente já não entende toda essa semiótica de cores e formas que se quebram na simbologia da saudade. Desenho o teu corpo quente e acolhedor sobre o meu com traços desencontrados. Sentada no corredor vejo costas cor de sépia em minha cama. São minhas. São tuas. Fica embaçado, mas ainda vejo, através de nuvens cinzas, o teu dedo deslizar neste ainda desfocado desenho. Lembro do vinho tinto, seco e de nome sutilmente endiabrado que esquentava mais ainda cada contorno dos nossos corpos. Passo o dedo na garrafa, procuro ainda o resto do vinho. Fecho os olhos e começo a criar um desenho tinto. Manchas. Teu desenho, meu desenho, nosso desenho. Desenho com bordas amassadas que nele tudo ainda se confunde. Que traços manchados são estes que aparecem? Quais são teus? Quais são meus? O que é nosso neste desenho cor de vinho?
Já é noite. Já está tarde. Volta. Vem desenhar comigo. Ainda há gotas naquela garrafa.
Helena


Depois de ler esta carta ainda fiquei ainda mais curioso em saber mais e mais sobre Helena. Quem seria V? Onde seria a praia das incertezas? Onde é e se existe eu não sei, mas sei apenas que, tão quanto Helena, eu vivo nesse eterno jogo com as palavras. Vivo das incertezas, das imagens, de lugares que fazem falta, de lugares que nem sei se existem. De sentimentos que passeiam através do tempo e da História.
Estou cansado agora. Já é tarde. Amanhã na aula, tomo coragem e falo com Helena.

E. Alvarez