Era indiferente.Não sabia o que sentir e não saber o que sentia já era indício do não sentir. Isso a assustava mas ela não desistira de saber o que estava acontecendo dentro de si mesma. Sua frieza era típica e ela as vezes nem chorar conseguia.
Sinto que hoje te matei. Matei a possibilidade de te ter dentro de mim. Sentir você nadando dentro mim. Sonhos me mostraram que você me queria. Já imaginava teu rosto branco e cândido querendo os meus braços. Desculpe-me se ainda não posso te amar e você apenas foi uma possibilidade de amor concreto,meu amor maior.
Antes que você chegasse, eu fui fraca e destruí todas as possibilidades da tua existência.
Sei que não posso imaginar o seu sorriso e nem teu cheiro. Sou apenas um ser humano egoísta que ainda não está preparada para teu amor.
A única coisa que sinto são morcegos dentro do meu estômago vazio de possibilidades. As dores vão e vem num ritmo da Sinfonia nº 5 de Beethoven.
Sento num bar, peço a bebida que me embriaga para esquecer que você poderia ser parte de mim agora. Esvazio a garrafa verde, peço café sem açúcar e choro pelo último cigarro. Faz frio e tudo que quero é cantar pra você sua cançãozinha preferida, mas tudo o que tenho aos meus ouvido é a voz chorosa da cantora lírica me lembrando da sua não existência e o garçom mal humorado no fim do expediente.
Sabe que sonhar com você me dói porque eu não sei quando você vai chegar e se ao menos pode existir? Não é fácil pensar no seu amor puro e no teu choro no meio da noite. Divirto-me em pensar se você gostaria de maçã ou pêra. Choro e sinto que você vai demorar a chegar. Você não sabe a hora e nem eu deixo você chegar. Ensaio o seu sorriso na minha mente para que eu sinta ainda uma possibilidade de tocar na tua mão e andar no parque num fim de tarde.
Perdoe-me só dessa vez por não te deixar existir. Sei que você seria o meu melhor soneto, minha melhor composição, minha melhor lira, minha pedra poética lapidada.
Perdoe-me se esse não é meu melhor texto. Perdoe-me se não te dei a oportunidade de me sentir.
Perdoe-me, pois a única certeza que tenho é que te matei hoje, meu mais puro conto com rostinho de anjo.
E. Alvarez
8 comentários:
a parte final do texto ficou melhor do que o início.
Gostei.
perdi a paciência com os textos que falam. antes espiar o fluxo próprio da consciência, antes ficar propriamente te olhando, em sendo tu tão concisa nos atos.
Forte, muito forte. Dolorido até. De uma certa tristeza se lido uma só vez. Mas lido de novo, fiquei pensando de quantas mortes precisamos para fazer o amor dar certo? O amar romântico,que vive só de vida existe? Quantos assassinatos cometemos dentro de nós mesmos pra chegarmos perto do que queremos de amor? Eu acho que o que tens hoje é um novo começo. Uma morte pra outra vida entrar, uma que estejas preparada pra viver.. a memória se encarrega de esquecer o resto. Eu gostei do texto, gostei mesmo. Corajoso.
Um beijo procê
Deixo minha cara ao relento. E volto para comentar.
Me.
Sinto-me...
como uma varanda de uma casa
sem paredes.
eu te perdôo pelo não-melhor texto.
eu me perdoo tb, pelo não-melhor comentário.
mas eu nao perdoo pela tua sensibilidade em ir ali, não no fundo, mas na peliculazinha que descortina tudo o que deve ser escondido.
então é isso.
passei (e ousei!)
agora minha flor, só no proximo junho!
O Drummond não conseguiu matar formigas, Eveline.
Mas você matou gente.
Você é forte.
Abraços...
Germano
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