Sim, era um fim de tarde e não era fria. Lá estava ela sentada naquela praça. Já havia sentado em outras. Já havia tido conversas. Já tinha sentido o que não queria sentir. Já havia encontrado o inesperado. Uma dança havia acabado. Ele, que tinha sentimentos por ela se aproximou...
- oi, moça... está bem?
- não
- quer conversar?
- não. Eu preciso ficar sozinha.
(silêncio)
- Eu fico puto mas eu entendo. Fica bem.
- sim, decerto amanhã estarei. Basta eu dormir...escrever, basta chorar, basta amanhecer.
- Eu não sei como agir.
- Não se preocupe. Amanhã eu estarei por perto. Hoje eu não faria bem pra você.
- Posso te acompanhar até o ponto de ônibus?
- Não. Já disse. Eu quero ficar sozinha.
- Certo. Tchau.
Ela sem olhar para trás foi caminhando e se perguntando o porque de algumas pessoas se recuzarem a sentir o vir dos sentires. Pouco depois, quando já se encontrava perto do ponto de ônibus virou o rosto e viu o rapaz cheio de ansiedades correndo para de novo encontrá-la. Ela virou e quase murmurando perguntou:
- O que houve?
- Não se preocupe, não vou te acompanhar. Eu só precisava fazer isso. Quer um trago?
- Isso o que?
- Isso.
(Ele parou. A olhou. Um olhar que durou uma eternidade de segundos.)
- Entendo. Isso foi a melhor coisa do meu dia. Obrigada.
- Eu não fiz isso só por você. Eu precisava. Alívio agora.
- Certo. Vou indo.
Ela sai caminhando numa lentidão que quase doía. Ele, depois de alguns segundos quase gritou:
- Adoro você
Ela olhou, ensaiou um sorriso e quase na mesma altura respondeu:
- Eu gosto de você.
O ônibus estava vindo. Ela teve que correr.
E. Alvarez
Decisão
-
“Então eu tomei uma decisão. Chega de viver no passado, porque o passado
nem é um bom exemplo das minhas melhores escolhas. Uma coisa é olhar para
trás e v...
Há um ano
12 comentários:
"- sim, decerto amanhã estarei. Basta eu dormir...escrever, basta chorar, basta amanhecer."
Situação comum num [re]encontro de grandes almas, diálogo profundo pra quem enxerga fundo! Me identifico com o texto, e sua naturalidade é terrivelmente perturbadora.
Roberto Denser
uma conexão de tristeza, amargura & vontade de entender o amor do outro mesmo quando estamos tão apartados...
muito sutil, o tom... bem.."minimalista", desliza quando lido & afaga o âmago por meio da decodificação do silêncio & da harmonia presente na alma quando perfurada pelos cristais das palavras... muito precisas, certeiras... calmas...melancólicas...
escutar a Mazzystar me ajudou a sentir bastante ele... a tristeza compartilhada pela narradora, distante & tão próxima do gueto emocional onde se encerra a personagem feminina...
belíssimo!
Finalmente algo para eu ler. :P
E mais... demorou esse incêndio, viu?
sua subjetividade vai além do discurso direto. não gosto do direto; sua função desmerece o ser. a pulsação se altera ensurdecedoramente; cega meu pulso.
Gosto da pergunta "O que é isso?" Devia ser o nome de um livro.
[estou tendo problemas ao confirmar o comentário. se vários iguais surgirem, deleta]
quantos silencios gritantes
(só um recado) Psiu, que coincidência, eu chego com uma fotografia dos waffles e vejo seu comentário sobre. Inclusive adorei o kwark (?) de morango sim, yumy.
Texto simples, curto, mas bastante contundente; mas você já publicou aquele trecho que li em seu celular? Se ainda não, realmente merece.
Quem escreveu "Dionísio e a Revolução do Orgasmo" pouco acima?
Beijos!
E se falhar o amor
que outra fantasia invento?
E se o lobo ávido
der comigo sedenta e ambigua
e não me reconhecer?
Se falhar o construção
aproveito-me da linguagem:
minto.
Se falhar "a" construção...que ato falho! Deuses!!!
- Ela se foi... não! Ela não se foi, ficou cá grudada nos meus olhos. A dança que o vento soprou em seus cabelos ficará impregnada no meu juízo.
O ônibus seguiu seu destino: que destino?!
(barulho, muito barulho)
- Essa cidade está crescendo.
Ele sacou a foto de uma atriz quase famosa, linda... Guarda a foto na carteira pra lembrar da moça passageira que o ônibus levou.
Na foto ela está de costas, lendo um livro qualquer. Bem, não é um livro qualquer, mas ele não se interessa por livros mesmo...
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